segunda-feira, 16 de abril de 2018

One Flew Over the Cuckoo's Nest









1982 - É possível que um piloto que já tenha tomado parte até mesmo do seleto circo da Fórmula 1 possa encontrar-se hoje impossibilitado de disputar uma simples prova do calendário nacional por problemas de patrocínio?

Sim, se o país se chamar Brasil e o piloto Alex Dias Ribeiro.

Era no mínimo intrigante observar o pequeno Alex rondando os boxes durante os treinos dos Mil Quilômetros de Brasília e não contar com um carro para participar da corrida.

"Mas isso aqui" dizia ele, mostrando a ausência de grandes nomes e, possivelmente, antevendo o fracasso da promoção, "é simplesmente o retrato da decadência do automobilismo brasileiro"

"Em 1980, quando retornei da Europa disposto a montar um esquema na Stock-Cars, não imaginava que a situação se encontrasse nesses níveis. Não obtive apoio da GM e preferi ficar de fora. Afinal, tenho um nome a zelar e não posso competir em condições ao menos de igualdade com o Paulão, Ingo e outros."

Alex Dias Ribeiro, atualmente, prefere pensar em uma vida bem menos atribulada que a loucura das pistas. E sonha com a simplicidade de uma vida criando galinhas na fazenda que pretende adquirir.

Mas a vontade de correr às vezes teima em voltar, a despeito de todas as decepções por que passou e que estão minuciosamente estampadas em seu livro "Mais que Vencedor", do qual se ocupa na promoção.

Dessa forma, até que ele tentou retornar nos "Mil Quilômetros", prova que ele conhece muito bem. Para Alex, todavia, as dificuldades não são absolutamente estranhas e ele não conseguiu um patrocinador, apesar do empenho da Federação de Automobilismo do Distrito Federal.

Mas, no fundo, depois de acompanhar os monótonos treinos de sábado, talvez Alex nem mais se interessasse tanto pela corrida. E, a bem da verdade, nem foi visto domingo no autódromo.

"O Ingo Hoffmann também não veio por falta de dinheiro. E isso é um absurdo, porque nosso automobilismo necessita de nomes importantes. De uma infra-estrutura promocional de que não dispomos".

E Alex prosseguia, formulando algumas teorias sobre a crise do esporte no Brasil:

"Assisti a alguns anúncios chamando para a prova e eles, simplesmente, omitiam os grandes pilotos. Além do mais, o brasileiro acostumou-se a ver a Fórmula 1 pela televisão e não aceita menos. Em outros países, no entanto, procuram-se fórmulas de atrair público."

"No Grande Prêmio da Inglaterra, por exemplo, houve até demonstração dos aviões Harrier, utilizados pela Força Aérea Britânica na Guerra das Malvinas, e exibição do supersônico Concorde. As corridas devem ser mais promovidas", argumentava Alex.

Perfeito exemplo do caos instalado no automobilismo brasileiro, os "Mil Quilômetros de Brasília" ao menos serviram para comprovar definitivamente que os novos dirigentes não podem perder tempo na tentativa de resgatar o desacreditado esporte.

É necessário trabalhar e rápido. Porque, quando um nome do porte de Alex Dias Ribeiro se vê impedido de disputar uma prosaica prova doméstica, é sinal de que as coisas vão mal. Bem mal.