quarta-feira, 18 de abril de 2018

PASSARINHO





1985 - Mais de dez anos depois de abandonar as pistas, não sem antes deixar sua marca ao vencer as "25 Horas de Interlagos" na apresentação de despedida, o ex-piloto Bird Clemente, aos 47 anos, continua um apaixonado do automobilismo. É certo que os ralos cabelos e os 15 kg a mais lembram pouco aquele garoto que em 1959 estreou nas Mil Milhas ganhando o apelido de Passarinho.

"Mas a velocidade continua no sangue da gente", justifica Bird, hoje secretário geral do Automóvel Clube de São Paulo e que acompanha, com profundo interesse, todas as competições de Fórmula 1 pela televisão.

"Até que dei sorte na minha época, porque era uma fase de promoção da indústria automobilística nacional", explica. "Por outro lado, não existiam as facilidades atuais de aparecer e se projetar internacionalmente", lamenta o ex-piloto da Vemag, Simca, Willys. Conserva o seu Interlagos nº 22 até hoje, inventor das curvas em derrapagem forçada e colega de equipe, entre outros, de José Carlos Pace, Chico Lameirão, Luis Pereira Bueno e dos irmãos Fittipaldi.

Pai de quatro filhos, fabricante de vidros e dono de uma loja de acessórios para automóveis em São Paulo, Bird tem uma situação econômica tranquila. Não sente falta das pistas e classifica os atuais corredores como verdadeiros "operadores de máquinas". Não vai aí nenhuma critica, ao contrário: é fã de Piquet e Senna.

Não costuma comparar o talento de pilotos de sua época ao dos atuais, porém. "Antes, vivíamos o tempo do automobilismo romântico. Comparar corredores de hoje e ontem é como pegarmos um antigo piloto de aviões Catalina, que se arriscava a pousar no meio da selva só com sua coragem, e um piloto de um Mirage, que depende do frio conhecimento de todos os instrumentos de seu aparelho supersônico, como se fosse um computador. Qual é o melhor? Não sei responder."

Depois de 15 anos como corredor, entretanto, Bird Clemente tem uma certeza: "No automobilismo, acaba-se ficando supersticioso sem acreditar em superstição". Por isso não arrisca um palpite sobre o campeão de Fórmula 1 da temporada. Mas, no fundo, acredita que vá dar Nelson Piquet, um piloto com características bem diferentes de seu estilo, que era o de ir para a "degola", sair na frente para que as outras equipes quebrassem no caminho e seus parceiros fossem favorecidos, isso quando seu próprio carro resistia e disparava na ponta, vencendo a corrida.